Xadrez Básico, de Orpheu Gilberto D’Agostini
Por Hindemburg Melão Jr.
Como a série de análise de livros teve boa receptividade, sigo com este que é provavelmente o melhor e mais famoso livro didáticos de Xadrez em nosso idioma, usado e recomendado por quase todos os melhores jogadores do Brasil. No canal do GM Felipe El Debs, ele entrevista vários jogadores bastante experientes e uma das perguntas que costuma fazer é em quais livros eles começaram, e mais de 80% começaram pelo Xadrez Básico e os outros 20% se dividem entre todos os outros demais livros, entre os quais o já citado Manual de Idel Becker, o Lições Elementares do Capablanca, os 4 volumes do Tratado General de Ajedrez de Roberto Grau etc. Algumas pessoas acham o Tratado do Grau melhor que o Xadrez Básico. Eu achei que a qualidade técnica do Xadrez Básico é superior, há menos erros, mas o Tratado do Grau é mais detalhado, porque o volume de texto é maior. Além disso, creio que a sequência Xadrez Básico, Tática Moderna e Estratégia Moderna seja melhor que os 4 volumes do Grau. Essa também parece ser a opinião do Pelikian, um dos melhores treinadores do mundo e várias vezes eleito o melhor professor e treinador do Brasil. O autor, Orfeu Gilberto D'Agostini, foi Mestre Nacional numa época em que era bem mais difícil conquistar esse título. Atualmente a CBX promove eventos nos quais o campeão de um torneio para jogadores abaixo de 1600 recebe o título de MN, aliás, acho q os 3 primeiros colocados recebem, o que tem sido bastante criticado por muitos jogadores, porque acaba desvalorizando o título pela vulgarização. Essa é uma questão complexa e polêmica, porque em muitas modalidades se oferece medalhas a todos os competidores, como forma de "incentivo", mas isso geralmente se faz com crianças, e também não há estudos, que eu saiba, que corroborem a hipótese de que isso representa um real incentivo. No meu primeiro torneio de Judô, por exemplo, fui campeão, e todos outros, inclusive quem perdeu todas as lutas, também recebeu medalhas. Se eu tivesse perdido todas e recebido uma medalha, não sei se eu me sentiria motivado a melhorar, porque saberia que tanto faz, qualquer coisa que eu fizesse, ganharia um prêmio do mesmo jeito. Enfim, na época q D'Agostini foi distinguido com o título de MN, não sei bem quais eram os critérios, mas como ele não aparece no site Chessmetrics, suponho que não chegou ao equivalente a 2200 de rating. Pode ter sido um título Honoris Causa, similar ao título de GM conferido a Koltanowski, o que não representa nenhuma redução em seus méritos. Koltanowski tinha força de GM, mas na época era mais difícil conquistar as normas, o rating estava deflacionado em relação ao atual, havia menos torneios etc. O fato é que a qualidade técnica do livro é bastante alta, as análises são muito boas, a qualidade pedagógica também é muito alta, a organização do conteúdo, a linguagem, a seleção do conteúdo, tudo no livro tem um padrão bastante elevado e não é à toa que pode ser considerado um best seller do Xadrez brasileiro. Um dos poucos detalhes que podem ser criticados, assim como no caso do Manual de Idel Becker, no My 60 memorable games e outros, é que o sistema de notação utilizado ainda é o descritivo. Isso não afeta em nada a qualidade geral, mas é uma forma obsoleta e menos prática de notação. Quando ele foi revisado, não entendi porque continuou a usar essa forma de notação. Aliás, não sei bem quais foram as revisões. Dei uma olhada na nova edição (capa verde), mas não percebi diferença em relação ao vermelhinho, que eu tinha. Nem a famosa partida Anderssen-Kieseritzky, que tinha uma inversão na ordem dos lances, não foi revisada. Por isso, até onde pude notar, não há diferença relevante entre as edições mais antigas e as mais novas. Qualquer delas tem praticamente mesmo conteúdo e são todas muito recomendadas.